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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

infinito delimitado

Sabe quando seu computador de repente não liga mais? De repente puuuuf~?

Na maioria das vezes não é na verdade "de repente"; ele já vinha dando sinais da sua morte vindoura há algum tempo, mas, nah, é normal, computadores ficam meio lentos às vezes. Deve ser vírus. Nah, Windows sempre trava. É normal. Eu preciso dar ctrl+alt+del de duas em duas horas, mas tá tudo bem.

Não, não está tudo bem.

E eu vejo esses sinais aparecendo.
Sinais do tempo.
Sinais de desgaste.
Aqueles que a gente, quando tudo acabar, vai ignorar pra dizer "foi tão de repente, até ontem tava tudo bem!". Claro, você fez o que podia a respeito deles e ontem eles estavam quietinhos, mas os defeitos, as falhas, os erros todos podem ser camuflados, mas se acumulam. E uma hora puuuuf. Quando você achou que estava tudo controlado, quando você achou que tava tudo bem.

E o problema é que eu não tenho conseguido, apesar de tentar fortemente, ignorar esses sinais, acreditar nas medidas que parecem eficazes a curto prazo.
E um medo muito grande me aflige que eles sejam realmente sinais de um "puuuf" muito muito ruim que não pode ser adiado por muito tempo.
Um medo de que estes sinais sejam alertas de algo superior pra que eu sofra menos quando vier a acontecer. Não, não... não importa o quão anunciado seja algo... o ser humano peca por nutrir esperanças até o fim. Por a esperança ser a última a morrer. Por considerar as chances ainda que muito pequenas, até as chances praticamente iguais a zero (ou até mesmo aquelas REALMENTE iguais a zero).

E eu queria muito me confortar com as medidas tomadas e ignorar os sinais e não ficar pensando em me preparar pra qualquer coisa.
Não quero me preparar pra porra nenhuma.
Não quero que isso aconteça, não quero me preparar, não quero sofrer por antecipação.
Quero minha esperança.
Pelo menos, se sofrer, que sofra tudo de uma vez e no momento em que não há realmente mais nada a fazer, ao invés de sofrer picadinho enquanto você ainda poderia estar se regozijando na alienação da esperança.

É como aquele aparelho novo que você comprou.
Novo, lindo, na caixa, você abre, instala, funciona perfeitamente, dá aquele gosto.
Aí... dá o primeiro defeito. Já bate aquele desgosto. Já é o sinal que não é mais o mesmo. É o sinal dado por coisas que um dia serão trocadas e/ou inutilizadas.

Porém,~
muito provavelmente não serão trocadas e/ou inutilizadas AGORA, porque é o primeiro defeito afinal. Ou o segundo, ou o terceiro. Não importa: essa desculpa sempre vai funcionar.
Se já forem muitos, temos esperança que dure mais porque já tá "calejado", já foi recuperado muitas vezes, então deve continuar se recuperando - a não ser que seja um problema muito diferente e mais assustador que todos do histórico.

Mas uma coisa que importa muito é esse intervalo de tempo.
O intervalo de tempo entre o defeito - no caso, o defeito atual, o que te preocupa - e o "puf" final.
Este ponto é onde eu me refugio, aliás, na esperança de contra-argumentar meu lado que fica falando falando desses sinais.

Porque... veja você, você não espera que seu computador dure a vida toda. Até porque os computadores evoluem muito rápido e você viria a trocá-lo voluntariamente depois de algum (muito) tempo afinal.
Então, é preciso enunciar uma coisa: O infinito é inalcançável.
Não importa o quanto você se aproxime, ele já estará infinitamente à frente. Too bad, you lose.
Assim, as coisas não vão durar infinitamente. O que eu quero dizer é que não adianta esperar que algo nunca se desgaste ou nunca acabe, que tudo funcione perfeitamente para sempre ou que nenhum "puf" nunca aconteça; mas também não é preciso atormentar-se continuamente com isso, e sabe por quê?
Justamente porque não podemos alcançar o infinito, nós não precisamos do infinito. É, isso mesmo, ouso dizer. Não somos criaturas infinitas, então não precisamos de que as coisas ao nosso redor sejam infinitas; não precisamos de coisas que nunca acabem, porque nós também acabaremos um dia. Pra quê querer o infinito afinal se ele não pode ser alcançado?
Não importa se o fim existe e um dia chegará. Isso pode ser aquele fato admitido, intrínseco, e não uma coisa com a qual se fazer tortura constantemente.
Não é preciso torturar-se com isso; se você chega até o 5, qualquer coisa que chegue a isto será suficiente e o que vier a mais é lucro. Não seu, é claro, porque você nem vai saber (e pra você vai parecer infinito, aliás, só porque te excede o alcance).

Eu não preciso que você seja infinito de verdade, mas, se até o meu próprio fim o seu fim nunca tivesse chegado, ele nunca chegaria para mim, certo? Então você não teria fim.

Perceba você que eu ainda não consegui deixar de querer o infinito e ainda não consegui me confortar na natureza finita das coisas.

Eu não quero ver o seu fim.


Certo, onde está o contra-argumento então?

O intervalo de tempo, sim.
Você pode ter vontade de jogar tudo fora no momento que as coisas já não funcionam mais perfeitamente. Mas isso tá errado. Porque a existência do fim é fato, pra qualquer coisa, então só trará prejuízos jogar toda esperança pro alto; coisas infinitas não podem ser criadas. Porém, precisamos das coisas. Por um tempo infinito? Não! E aí que está o escape.

Adiemos o fim até quando pudermos, e que esse ponto no tempo seja até quando precisemos.
Adiemos o fim até quando pudermos, e que esse ponto no tempo seja até quando estivermos prontos para a ausência.
Adiemos o fim até quando pudermos, e que esse ponto no tempo seja até quando devia ser.

Adiemos o fim até quando pudermos e regozijemo-nos na alienação da esperança-até-o-fim.
Adiemos o fim até quando pudermos e lembremo-nos dele apenas para adiá-lo ou quando ele afinal vier.

Adiemos o fim até quando pudermos sem saber que estamos de fato apenas adiando o fim.

Porque fazê-lo de outra forma é viver o fim por todo o durante; é o fim constante; é a tortura da consciência do finito; é querer adiar o fim fazendo-o acontecer JÁ AGORA; é querer adiar o fim adiantando-o.
É a pior perda: perder justamente por medo de perder.

E é onde estou e é de onde quero sair.

Porque preciso acreditar que é possível ganhar do fim. É possível ganhar dele o tempo todo enquando ele não chega e mesmo que ele venha e queira jogar na minha cara que a palavra final é dele, eu saberei que eu o venci por todo o tempo em que ele não chegou e o venci por todo o tempo que não pensei nele de nenhum jeito e o venci por todo o tempo em que a existência dele não interferiu em nada: porque se eu afinal ignorava a existência teórica do fim e não o via por toda parte que eu olhasse, então o infinito estava diante de meus olhos. E ele só lá estava porque eu não o desejava (porque desejar o infinito é pensar no fim...). O infinito já estava me embalando, então eu não precisava desejá-lo.
Não preciso desejar chegar onde já estou, preciso apenas gozar do alcançado.
E venci o fim, ignorando-o completamente.

Porque todos querem o infinito da sequência de toda a reta real e esquecem-se dos infinitos delimitados entre cada dois números naturais consecutivos. Infinitos... delimitados!

E quero vencer o fim nestes infinitos delimitados distribuídos pela minha vida.
Eu queria que minha vida fosse um infinito delimitado.
Eu queria que a sua vida fosse, ainda que delimitada, um infinito.

Estou certa em ainda querer infinitos?

Se chegando neles deixarei de pensar neles e consequentemente nos fins, então os quero mais ainda.
Talvez eu esteja apenas querendo me alienar, mas não quero pensar em fim nenhum, queria só ignorá-lo agora, ignorar ignorar ignorar que ele existe e parar esta tortura.
Ok, eu estou querendo me alienar e isso ainda tá errado, o fim ainda está ganhando de mim.
Devia ser um fato e não tortura... não devia me torturar... não devia, não devia!

...

Melhor seria que viesse meu próprio fim de modo que eu não visse fim nenhum e tudo se tornasse infinito.



[you coward.]
Postado por nathália às 03:11
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Sobre

Nathália, 17/10/1992, São Paulo - SP

Liz é meu alterego, minha personagem universal para a qual todos os outros convergem; é minha massinha de modelar, meu gás, eu mesma e todo o resto. (mais)

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