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domingo, 10 de outubro de 2010

não, não vai chover

Som de passos na calçada.
Silêncio.
Passos apressados.

Silêncio.

- Para de andar rápido, já disse que não vai chover.

Não vai?

- Por que você tá andando tão rápido? Que merda, já falei pra parar, eu não consigo acompanhar.

Não consegue?

- Porra. Se você não quer que eu te acompanhe então vá se fuder.

Ela para na calçada.
Ele para instantaneamente. Vira-se para ela, a olha por alguns instantes.

- Vai chover, vem logo.

Vira-se e continua a andar.

- Mas, porra!! Qual o seu problema?? Que merda, para de me ingorar! Porra, é sério! Eu vou embora!
- Caralho, você vai só continuar reclamando mesmo? Mas que porra. Quer ir embora e se molhar, então vai, porra, para de ficar no meu pé então.
- É assim que você me trata então, né?! É assim mesmo??
- Porra, é você que tá arrumando problema, caralho. Se você pelo menos fosse menos chata...
- AH, então eu sou chata, né??
- Demais, puta que o pariu.
Ela começa a chorar, vira as costas e sai andando na direção oposta.
Ele grita:
- SÓ ESCUTA UMA COISA. Eu sei que esse é o momento que eu devia sair correndo atrás de você e pedir desculpas, mas EU NÃO VOU FAZER ISSO. VAI SE FUDER.
Ele sai andando na outra direção.

Gotas de chuva fininhas começam a cair.

- Puta merda, aquela vadia me fez me molhar, puta que o pariu, viu. VADIA!

Ele sai correndo para não se molhar.
Esconde-se embaixo de um toldo de uma lojinha de doces, surpreende-se ao encontrá-la lá.

- Como...?
- Como o quê?
- Como você chegou aqui antes de mim?
- Você é idiota?
- Para de ficar respondendo minhas perguntas com perguntas, porra!
- Não sei por que eu ainda te respondo qualquer coisa!

Barulho de chuva.
Aumentando, aumentado.
Pingos grossos e pesados.

- Eu te disse que ia chover.
- ...
- Desculpa, é que eu não queria me molhar.
- ...
- Pelo menos não me molhei, né. Me desculpa?
- Mas você tá molhado sim. Tá até pingando.

Ele olha para as suas roupas e entra em pânico.
Está pingando sangue por toda sua roupa; seus braços estão arranhados e ensanguentados, seu pescoço está em carne viva.

- MAS QUE PORRA?

Ele, transtornado, tenta enxugar o sangue, enquanto ela ri.
Ele então percebe que o que está caindo fora do toldo não é água; ele entra em choque ao pôr a mão para fora e trazer para dentro ainda mais sangue.

- MAS O QUE TÁ ACONTECENDO???
- Não precisa se preocupar com isso...
- QUE MERDA VOCÊ TÁ FALANDO?
- Quero dizer, não tem problema nenhum, isso...
- VOCÊ É LOUCA??
- Não tem problema porque... todo esse sangue caindo é seu.

Pingos grossos e pesados. Grossos, pesados e cheirando forte. Pingos caem ao chão ao montes.

- Eu disse que não ia chover.
Postado por nathália às 21:30
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Sobre

Nathália, 17/10/1992, São Paulo - SP

Liz é meu alterego, minha personagem universal para a qual todos os outros convergem; é minha massinha de modelar, meu gás, eu mesma e todo o resto. (mais)

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